sábado, 21 de janeiro de 2017

A carta

Imagem relacionada

 Coloquei a carta na caixa de correio e saí correndo. Era uma noite chuvosa e sombria, faziam dez graus e ninguém se atrevia a colocar os pés para fora de casa. Mesmo tremendo observei aquela rua que por tantos anos passei, era triste ver como tudo tinha acabado.
 Parei de correr e comecei a caminhar, devagar, sem nenhuma pressa de chegar em casa. Era tudo muito solitário, não havia ninguém me esperando, a tristeza em meu coração crescia como erva daninha em plantas saudáveis. Nada como afastar as pessoas de sua vida. Fiz muitas escolhas erradas durante os anos que fizeram eu chegar até aqui.
 Explicado tudo naquela carta, como eu me perdi em um vício que na época parecia ser a única coisa importante. Deus, como eu estava errada, aos poucos fui perdendo tudo: meu emprego, minha casa, amigos e por fim minha família. 
 Era um sentimento louco e impulsivo que tomava conta de meu corpo, eu tremia por desejo e brigava com qualquer um que tentasse me impedir. As coisas só pioravam. Não percebi e quando vi estava dormindo na calçada e pedindo esmolas a pedestres que nunca saberiam minha história, ninguém se importava, e por que deveriam? Eu era só uma em milhões de outros. Um grão de areia no deserto, uma gota de água em um oceano inteiro. 
 Os anos foram passando e as coisas complicando, não sabia quem eu era nem o que estava fazendo da minha vida, eu só queria suprir aquela vontade infinita que meu corpo implorava ao meu cérebro. Até que desmaiei na rua, no meio dela. Alguém chamou a ambulância e eu fui levada ao hospital onde me internaram por nove meses. Foram os piores meses da minha vida, mas foi preciso. Assim que eu saí fui acolhida em um abrigo comandado por uma médica da clínica, que por algum motivo se apegou a mim. Eu não falava com ninguém da minha antiga vida há muito tempo, mais do que consigo lembrar. Madalena, a médica, me aconselhou que eu escrevesse a carta contando tudo o que aconteceu, e foi isso que eu fiz. Escrevi a carta e coloquei pessoalmente na caixa de correio dos meus pais, e caminhando pela rua em que cresci não pude deixar de me sentir nostálgica e leve, eu havia concluído uma parte de minha vida e estava ansiosa para saber o que viria a seguir, como uma novela.
 Depois de muita reflexão voltei ao abrigo e deitei em minha cama, o quarto era compartilhado com mais sete moças, mas eu não ligava, olhei para o teto e desejei o perdão dos meus familiares, os erros que fiz perpetuariam em minha mente para sempre, não há como apagar, mas virar a página sempre é possível. Quando estava quase pegando no sono ouvi Madalena me chamar:
 -Sabrina, tem alguém lhe telefonando.
 Olhei para ela confusa e vi seu sorriso esperançoso. Meu coração deu um salto e eu corri para ver quem era, eu podia ver um novo capítulo em minha vida sendo escrito.

Fim

OBS: Texto ficcional. Sempre bom ressaltar.

Um comentário:

  1. Olá, Camilla!
    Amei esse seu texto! Está maravilhoso e super bem escrito! <3

    Beijo, beijos
    relicariodehistoriasma.blogspot.com

    ResponderExcluir